Sem “A Fazenda”, Record vai para o brejo

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Sabe quando você tem um filho e sempre o convida para conversar, alertando sobre o que, como cidadãos de bem, devemos ou não fazer? E, pela lógica, bem sabemos que o perigoso ou proibido, às vezes, para eles, é mais interessante, por isso, não é tão incomum quando fazem o contrário do conversado. Geralmente, é “quebrando a cara” que aprendem.

Assim funciona a Record. Esta coluna e dezenas de outras pelo Brasil alertaram sobre o erro de basear uma grade de programação exclusivamente em um único foco, no caso, no reality show A Fazenda.

Os folhetins foram os primeiros prejudicados, e, para quem acompanha o universo televisivo, não é difícil destacar as telenovelas como um dos pilares da nova fase da emissora, talvez o principal, aquele que a fez se sobressair frente ao SBT e cativar o telespectador.

De cara, perderam as edições de sábado. Depois, a cada dia tinham um horário de exibição. Com isso, conseguiram que o fenômeno de audiência Os Mutantes saísse de cena sem todo o apelo que o impulsionou meses atrás. Na brincadeira, chateado com a situação, Tiago Santiago, autor da saga, – duvidosa, porém, vitoriosa -, trocou a Record pelo SBT.

Poder Paralelo, novela com potencial para ser um dos grandes sucessos da rede, com história de verdade, passou, primeiramente, pelo processo de censura, o que ocasionou, e isso se tornou público, em descontentamento por parte do elenco e também do autor. Pra completar, as mudanças de horário fizeram a audiência despencar, e, hoje, dificilmente chega aos dois dígitos. Pelo “conjunto da obra”, não duvidem, Lauro César Muniz pode ser o próximo a mudar de casa.

E agora, por fim, Bela, a Feia, recém estreada, não consegue ultrapassar a barreira dos seis pontos, e, raramente, quase nunca, conquista dois dígitos. É bem verdade que a história, um remake, já vem com gostinho de bolor, afinal, só no Brasil, duas novelas e uma série foram exibidas contando a história da feia – Ugly Betty ainda está no ar, pelo SBT.

Contudo, televisão é feita de hábito. Anunciada para às 20h30, Bela já circula pela faixa das 22h. Ontem, inverteram o horário da novela com o Tudo a Ver, que retornou à grade pela ”milésima” vez. Estão testando a audiência.

Em resumo, o que acontece com a Record, hoje, é uma história que se repete. Quando explorou exaustivamente os casos Isabella e Heloá, a emissora viveu um “boom” de audiência, e, assim como A Fazenda, tirou o sossego da Globo. Mas nem tanto.

A Fazenda, por exemplo, apesar de ter conquistado audiência expressiva, nem de longe chega perto da Casa dos Artistas, esse sim um sucesso sem comparação. Ameaçou uma novela das oito (O Clone) e bateu o poderoso Fantástico com surras históricas, e, além disso, superou a casa dos 50 pontos. Enquanto isso, o reality da Record comemora uma final fraca que não superou o “show da vida” e obteve mirrados 21 pontos.

O que acontece, de fato, é que nada justifica jogar para escanteio produções que, ao final da festa, teriam que sobreviver sozinhas. A lógica, e isso sim seria inteligente, teria sido aproveitar o sucesso do reality, entretanto, aproveitar, neste caso, significa mostrar serviço enquanto a audiência está bombando. E isso é bem diferente de passar o dia fazendo sensacionalismo barato com as sub-celebridades em programas de gosto duvidoso atravessando uma passarela ou entrevistando exaustivamente os pais dos concorrentes.

Agora, nem as novelas nem o Hoje em Dia e Geraldo Brasil conseguem audiências satisfatórias. O Jornal da Record foi outro prejudicado: a cada dia bate um novo recorde negativo.

Trocando em miúdos: vão repetindo a mesma trajetória do SBT. Pra quem não se lembra, o canal de Silvio Santos atingiu o fundo do poço quando perdeu credibilidade junto ao seu público. Uma marca, sem confiança, não sobrevive.

E o SBT, hoje, ainda pena para provar para os telespectadores que mudou. Fosse diferente, já teria recuperado a vice-liderança.

Por fim, há mais uma coisa que questiono: a Record diz que a Igreja Universal é apenas mais um cliente da emissora, ou seja, compra o horário das madrugadas, e, isso, justificaria a fortuna paga. Mas há um porém: diariamente a Record encerra sua programação em um horário diferente. É estranho um cliente que paga por seis ou sete horas, e, no entanto, leva cinco ou quatro. E sem reclamar…

Por: Endrigo Annyston - Cena Aberta

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